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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Transtorno da Ansiedade Generalizada - Efeito Bola de Neve

Fonte da imagem: http://canal.bufalo.info/2014/12/
investimentos-bufalescos-segurem-essa-bola-de-neve/
A ansiedade é normal até certos níveis. Passa a ser patológica quando começa a causar sofrimento. No entanto, se se caracteriza por uma tensão excessiva, um nervosismo crónico e preocupação excessiva, não podendo ser associada a uma situação ou objecto específico, apresentando-se de forma difusa, com um constante e indescritível sentimento de medo, apreensão e inquietação, estamos perante um Transtorno da Ansiedade Generalizada. 

Um dos problemas deste transtorno - além do sofrimento que causa só por si - é o efeito "bola de neve". Ou seja: a ansiedade generalizada gera um estado de vigília constante, ou seja, passa-se a estar demasiado atento a tudo o que se relacione com a nossa sobrevivência física ou a outros factores cujo desequilíbrio falha associamos a catástrofe um sofrimento insuportável, como o caso das relações, do emprego, etc.. Este estado de vigília e tensão permanente faz com que os pensamentos e preocupações relacionadas não saiam da nossa cabeça, eles aparecem como intrusos, independentes da nossa vontade. É impossível desligar a ficha, impedindo-nos de nos concentrar em outras coisas, de nos distrairmos e de relaxarmos.

Num estado assim, os músculos ficam tensos e rígidos, aparecem algumas dores no corpo, problemas gastrointestinais e náuseas e perturbações do sono (quem consegue dormir bem em estado de vigília constante!?... Se não dormirmos, se nunca nos sentimos relaxados, o que acontece é que nos iremos sentir cada vez mais cansados. No entanto, a par com este cansaço, o estado de hiper-vigília também aumenta. Então, em vez de cedermos ao cansaço e por exemplo dormirmos melhor, o que acontece é que cada vez nos é mais difícil relaxar e dormir. A ansiedade gera ansiedade, que por sua vez aumenta o estado de vigília; a dificuldade ou impossibilidade em descansar aumenta o cansaço, a falta de concentração, o medo, a tensão, as dores no corpo, a preocupação; isto alimenta a ansiedade e por aí adiante. Estamos perante um efeito bola de neve, com repercussões imprevisíveis na nossa vida, a todos os níveis. 

Como nos livrarmos disto e voltar à vida normal? Procurando ajuda. Nestes casos, há mesmo que procurar ajuda profissional, afim de parar esta escalada e invertê-la. Em casos extremos, a terapia farmacológica é fundamental, conjugada com psicoterapia. Dormir e relaxar é uma prioridade, por isso os calmantes ou indutores do sono reduzem um dos maiores sofrimentos decorrentes do Transtorno da Ansiedade Generalizada. Muitas vezes existem outras perturbações mentais associadas como depressão, ataques de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, etc., daí que a terapia seja imprescindível tratar também estes problemas. A psicoterapia vai ajudar-nos a lidar com tudo.
O melhor é parar esta bola de neve de crescer. Actuar quando ela ainda é pequenina, pelo que devemos estar atentos ao facto de ela se estar a desenvolver, e pará-la o mais rápido possível, não deixando arrastar porque depois torna-se muito mais difícil e demorada a recuperação. 


terça-feira, 22 de julho de 2014

O síndrome do "Coitadinho"

"Coitado de mim!" é uma frase que se lê nos olhos de muita gente...
Elas estão no centro do universo, avaliando a sua própria situação a partir de ideias pré-concebidas e da assumpção de valores de humildade distorcidos em que ser vítima é desejável. A auto-piedade anula e substitui os instintos normais de fuga à dor (física e psicológica). Mais do que incentivos à libertação, eles preferem ouvir coisas como "Tenho pena de ti", "Coitado!". Provavelmente já se aperceberam das vantagens imediatas: têm mais mimos, mais atenção, mais compreensão. Contudo, não lhes resta muita vontade para mudar a situação. O que preferem ouvir dos outros é aquilo que também preferem ouvir de si próprios. Esta atitude passiva de submissão está provavelmente de acordo com a sua educação e vivências anteriores: os maus acontecimentos da vida sucedem-se, muitas vezes não são evitados ou são inconscientemente provocados; a sensação de que não podem fazer nada por si apodera-se deles e é alimentada pela auto-piedade. 
Estas pessoas não vêm em si próprias a fonte da força para sair da situação em que se encontram. Entram num marasmo psíquico, num ciclo vicioso que as conforta e afasta o medo do desconhecido, ainda que esse desconhecido seja a liberdade.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Alimentar emoções

*Imagem retirada do site http://gizmodo.uol.com.br/emocoes-corpo-humano/
Quando não queremos que algo vivo cresça, a melhor maneira que temos para a matar é não lhe dar de comer. Sem alimento, certamente irá definhar e morrer. O mesmo acontece com as emoções humanas: se não as alimentarmos, elas morrem. Isto tem um lado muito positivo: se nos queremos livrar daquelas que nos atormentam, o que temos a fazer é deixar de as alimentar. 
Como fazemos isso? Alimentamos-las de cada vez que temos comportamentos que lhes são favoráveis. Por exemplo, a ansiedade: se tivermos medo de alguma coisa que pensamos irá acontecer no futuro, alimentamos a ansiedade associada sempre que pensamos nela, que falamos nela, que juntamos na nossa mente algum ingrediente, ou seja, um novo receio. A ansiedade crescerá, ficará mais forte. No entanto se fizermos exactamente o contrário ela acabará por diminuir e/ou desaparecer.
Às vezes achamos que se falarmos nas coisas ajuda. Sim, ajuda desabafar. Mas cuidado, ao falarmos nelas, ao verbalizarmos, por vezes, estamos a dar-lhes comida. É ténue a fronteira que separa o aquilo que nos aliviará e aquilo que nos fará ficar pior. 
O mesmo princípio se aplica a emoções positivas, por exemplo à alegria. Mas neste caso, o preferível é que engorde bastante, por isso, toca a alimentá-la!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Medo das emoções positivas

O Homem é um animal de hábitos. E é bem verdade. Normalmente, quando pensamos nesta frase vêm-nos à memória comportamentos repetidos ao longo da vida. No entanto estes hábitos estendem-se também às emoções. 
Os hábitos caracterizam-nos, moldam a estrutura do nosso cérebro. Assim acontece com as emoções. Se repetidas ao longo do tempo, o cérebro familiariza-se com elas de tal forma que as considera normais. Normais, no sentido em que espera que ocorram, está preparado para que ocorram, e como tal aceita-as, não as rejeita. 
O que se passa é que por vezes ele só está habituado a emoções negativas, as positivas são raras e pouco intensas. Quando ocorrem, são uma novidade. Perante tal, não sabe como se comportar. Apesar de o consciente lhe dizer que são boas, não havendo registo com o qual as possa comparar, o que imediatamente se verifica é um aumento da ansiedade associada. Mesmo aquilo que é bom, como pode o cérebro avaliar se o é ou não, aquilo que desconhece e para o qual não tem base de comparação? Tem que se conhecer o que é bom para se querer experimentar o que é bom, caso contrário, é difícil acreditar que essa sensação existe, ainda mais quando o historial apenas apresenta um rol de coisas más.
O desconhecido causa medo, ansiedade. Estamos programados para evitar estas sensações. Aquilo que nos é dito pelo consciente que irá causar emoções positivas, é recebido pelo cérebro com desconfiança, despoletando uma série de emoções negativas. Por exemplo, se alguém está habituado a comer algo amargo, de que não gosta, e desconhece o sabor do açúcar, como se sentirá quando alguém lhe sugerir que um bolo é doce e que o doce provoca sensações agradáveis? Medo. Medo de não ser verdade e de ficar desapontado, medo de o doce não ser tão bom quanto aquilo que lhe dizem ser, medo de que a sua língua não goste do sabor doce. O mesmo acontece com as emoções. 
É por isso que muitas vezes vemos pessoas que enveredam por estilos de vida que repetidamente lhes trazem emoções negativas, rejeitando aquilo que as faria sentir melhor, pelo menos a avaliar pelos padrões da maioria das pessoas.  

quarta-feira, 13 de março de 2013

Memória, Ansiedade e Benzodiazepinas

As benzodiazepinas, descobertas nos anos 60, vieram substituir os barbitúricos, anteriormente utilizados como tranquilizantes. O fim para que são administradas - promover o relaxamento físico e mental e reduzir a actividade nervosa do cérebro - acaba por ser uma faca de dois gumes. Se por um lado limita o sofrimento do indivíduo ansioso, por outro lado contribui a longo prazo para a deterioração da sua memória. 
Sob os efeitos destes medicamentos, a diminuição da memória é um facto que até vem descrita nas bulas como efeito secundário, sendo portanto universalmente admitido. Mas segundo Belinda Nunes, o stress e a privação de sono também são responsáveis pela diminuição da memória. Estes "efeitos secundários" do dia a dia da nossa sociedade afectam cada vez mais pessoas em idade activa, remetendo para cada vez mais cedo na vida do indivíduo um mal que era suposto começar a apoquentá-lo apenas na sua velhice. 
Num estado ansioso, cujo efeito biológico se assemelha ao medo, o cérebro está em constante sentido de alerta. Não admira portanto, que releve para segundo plano actividades que não são necessárias - ou imediatamente necessárias - para essa finalidade. Não é importante lembrar da matéria das aulas a que assistimos ontem ou da data de aniversário de alguém, mas é importante lembrar aquilo que faz disparar a ansiedade, ainda que esse "lembrar" seja o ir buscar memórias ao inconsciente. Lá, mais ainda que aquilo de que conscientemente temos noção, temos arquivados, para a par, um estímulo e uma emoção. Ao ir buscar uma, o cérebro inevitavelmente traz outra atrás. Por isso, se o estímulo por exemplo for um som, imediatamente vamos lembrar a emoção que sentimos da última vez que experimentamos tal sensação. Se o som estiver associado a algo agradável, a emoção será positiva, sentiremos alegria, prazer; se pelo contrário estiver associado a algo desagradável, experimentamos uma sensação negativa, tristeza, raiva, medo, etc.. 
Não admira, face a isto, que a ansiedade nos faça perder a memória, ao concentrar-se nas emoções. Contudo, se pretendemos acalmar através do uso de tranquilizantes, o efeito na memória parece ser o mesmo, não necessariamente nas mesmas proporções. O melhor é mesmo pedir ajuda a remédios naturais, tais como ouvir música, ler um bom livro, receber uma massagem, praticar desporto, etc., comer alimentos saudáveis e dormir bem. Praticar um estilo de vida saudável é a melhor prevenção que existe. Mas caso lhe seja inevitável estar sob um estado ansioso ou tomar benzodiazepinas, lembre-se também de um provérbio muito antigo: o que não se usa, perde-se. Por isso, não se esqueça de ir exercitando a memória!

terça-feira, 12 de março de 2013

O Medo, a Ansiedade e o Perigo

Por mais estranho que pareça, é mais fácil controlar o medo que a ansiedade. Perante uma potencial ameaça de perigo, os sinais biológicos ligados ao medo fazem-se sentir de imediato, antes mesmo da consciencialização dessa mesma ameaça. Ao terminar a ameaça, o corpo volta ao normal, os sinais de perigo desaparecem. benéfico. 
Embora ansiedade e medo se confundam na prática, pois os sintomas físicos são basicamente os mesmos, a primeira tem consequências muito mais graves, pois vive não apenas do presente, mas sim do futuro. Ela é a consequência da imaginação da representação da ameaça de perigo no futuro, ou seja, surge quando o indivíduo projecta no futuro, através da imaginação, a situação que lhe causa medo, vivendo assim, por antecipação, os sintomas inerentes ao medo inato. O prolongamento desta emoção ou a sua repetição, pode trazer consequências nefastas a vida pessoal e social, na medida em que inibe a iniciativa, a criatividade e mantém o corpo num permanente estado de alarme.
Imaginar - e vivenciar - continuamente aquilo que nos causa medo, adensa o próprio medo, de tal forma que muitas vezes este se transforma em fobia, ou seja, medo patológico, que não tem nenhuma função protectora, antes pelo contrário, pois na maioria das vezes estas fobias transtornam a vivência do indivíduo. Sabe-se hoje que não existe apenas uma região do cérebro responsável por gerar e manter a ansiedade; sabe-se que o medo se origina através da colaboração entre muitas áreas do cérebro. No mapa do cérebro, os cientistas identificaram áreas mais activas em pessoas com ansiedade e ataques de pânico, e foi possível reproduzir estados ansiosos através da estimulação de algumas dessas áreas. Durante os momentos de medo e ansiedade a região do cérebro mais activa é a amígdala. Estimulada, os níveis de cortisol (responsável pelo stress) aumentam, desencadeando os sinais biológicos do medo. O hipotálamo controla o sistema hormonal  e influencia o sistema nervoso simpático, ou seja, juntos são responsáveis pela activação ou desactivação dos recursos usados perante uma ameaça de perigo (pois perante um medo intenso muitas vezes, ao contrário da acção, o indivíduo experimenta uma sensação de paralisação), daí se tornar o alvo predilecto das drogas psicotrópicas. 
As situações ligadas ao medo permanecem na memória e podem ser activadas inconscientemente. É o caso dos ataques de pânico, por ex. Quando o contexto do estímulo é importante, este registo é armazenado no hipotálamo (memória emocional). 
A gestão eficaz da imaginação parece ser uma boa forma de controlar a ansiedade, sendo muitas vezes esta dificuldade em geri-la a origem de muitas fobias. Sejam as suas causas biológicas ou ambientais, o certo é que a emoção de medo deve ser apenas presente, se o indivíduo a projectar no futuro, que seja para evitar uma situação potencialmente desastrosa, mas real, e restringida apenas à sua função protectora e preservadora da integridade do indivíduo.

Fonte: http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/labirintos_do_medo.html

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O medo glogal

Mais uma vez trago-vos aqui algo que não é de minha autoria, mas concordo com tudo. Este foi o ponto a que chegamos, a sociedade que construímos mas que, sem maestro, toca cada um seu instrumento, num chinfrim de acordes desconcertados, onde o que devia ser música se transformou num ruído ensurdecedor. Já chegamos ao limite mas achamos que ainda estamos longe da meta. Trocamos a felicidade pelo medo, a ditadura do medo moldou as nossas mentes de forma a aceitarmos   ser manipulados em troca de promessas vãs. O hábito contínuo de sentir medo faz-nos sentir medo da própria felicidade com que tanto sonhamos: 
"(...)
Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.
Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.
Quem não tem medo da fome, tem medo da comida.
Os automibilistas têm medo de caminhar e os peões têm medo de ser atropelados.
A democracia tem medo de recordar e a linguagem medo de dizer.
Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas e as armas têm medo da falta de guerras.
É o tempo do medo.
Medo da mulher da violência do homem e medo do homem da mulher sem medo.
Medo dos ladrões, medo da polícia.
Medo da porta sem fechadura, do tempo sem relógios, da criança sem televisão, da noite sem comprimidos para dormir e medo do dia sem comprimidos para despertar.
Medo da multidão, medo da solidão, medo do que foi e do que pode ser, medo de morrer, medo de viver..."
 Eduardo Galeano, El miedo global (tradução livre).

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Desmame - 2ª Semana

Esta semana tem sido estranha. Agora estou a fazer Cymbalta dia sim dois dias não. Não quero ser "rápida" demais, para não demorar ainda mais tempo.
A ansiedade subiu, bem como a taquicardia. A ansiedade anda de mãos dadas com um medo difuso, inexprimível... O véu que me mantinha numa zona de segurança em relação à realidade está a desaparecer. É tão mais evidente a falibilidade do corpo, a inevitabilidade do seu perecimento e a sua exposição ao sofrimento... 
Agora estou cada vez mais acordada. Acordar é doloroso, principalmente para quem não age, apenas deseja. Dentro do meu cérebro a confusão instala-se aos poucos. Não me consigo apoiar nem nas religião, nem na filosofia, nem na psicologia. Preciso de  uma tese minha que satisfaça os meus critérios de solidez. Começo a acreditar que o ser humano não é um ser nobre por natureza, antes de uma bondade volátil e uma tendência nativa para destruir e complicar, em nome do progresso e da sabedoria, da fé ou simplesmente da vontade. Qual é a natureza do ser humano? Qual é ao certo a minha própria natureza? Nós não temos um anjinho e um diabinho sentados em cada ombro, nós somos esse anjinho e esse diabinho: somos o melhor e simultâneamente o pior que a natureza concebeu.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Medo e ansiedade - principais diferenças

Se bem que correlacionados, e produzindo basicamente os mesmos sintomas perante um perigo real ou potencial, a ansiedade e o medo não são bem a mesma coisa. A principal diferença está na caracterização do perigo. Enquanto no medo ele é bem definido, já o não é no caso da ansiedade. A ameaça é algo difuso, sem contornos definidos, é mais "um sentimento de ameaça"; o medo por sua vez é uma emoção básica, uma resposta. Para se estar perante a ansiedade é necessário estar presente a imaginação. Sem ela este sentimento não existiria, pelo menos nunca atingiria os graus que se verificam no ser humano. 
É importante conhecer a distinção para melhor diagnosticar e tratar. Pensamento positivo, aumentar auto-confiança, poderão ajudar a diminuir a ansiedade; aprender a lutar contra o perigo que se anuncia pode ajudar a lidar com o medo. Diferentes abordagens, diferentes estratégias de acção.

domingo, 10 de julho de 2011

Ansiedade extrema - vivendo o futuro

A crise de ansiedade é uma experiência de terror extremo. O seu desencadeamento está ligado ao medo, desenvolvendo-se até ao seu máximo numa questão de pouquíssimos minutos, mas também se pode manifestar de forma espontânea (ataques de pânico). Os sintomas principais foram já referidos no post anterior.
Um aspecto extremamente importante a saber sobre o medo é que ele se refere sempre ao futuro. Não há medo no presente, ele é sempre antecipatório de algo ruim que poderá acontecer. Trata-se de representações mentais de potenciais acontecimentos aos quais se associam de imediato emoções intensas, muitas vezes até desajustadas. Estes pensamentos desencadeiam reacções físicas proporcionais, como se estivesse a acontecer naquele momento.
O pânico é o nível mais alto da ansiedade. Um artigo da Universidade de Londres publicado na revista "Science" revela que "durante um episódio de extrema ansiedade e pânico, a actividade do cérebro move.se do córtex pré-frontal para o periaquedutal, ou seja, da parte da frente para a parte do cérebro intermediário. Há um fluxo maior de sangue no sector do cérebro que está mais activo. A parte da frente do cérebro abriga a sua capacidade de raciocínio e tomada de decisão. Já o cérebro intermediário é onde se localizam os mecanismos de sobrevivência, como a luta ou fuga" (in http://www.sempanico.com/).
No auge da ansiedade ficam  bloqueadas as funções ligadas ao raciocínio, o que limita ainda mais a compreensão do que está acontecendo. Há uma desadequação de emoções em relação ao perigo real ou potencial, pois que este ainda não se verificou, trata-se de uma antecipação mental de um (possível) momento futuro. Parece contudo indissociável do ser humano o viver em função do futuro ou do passado e não do presente (atenção que daqui a um segundo é futuro, embora muito próximo, nunca é presente). A imaginação é o segundo factor que permite gerar ansiedade: ela não se verificaria se não "visualizassemos" em nossa mente o que achamos que seguramente irá acontecer, acrescentando-lhe a carga emocional correspondente.

Imaginar é sentir, antecipar é sofrer antes do tempo. Viver o presente com as emoções adequadas aos acontecimentos presentes pode ser um remédio para nos livrarmos dos ataques de pânico e ansiedade extrema.




segunda-feira, 4 de julho de 2011

Medo extremo - Breve estudo do pânico

SINTOMAS DE UM ATAQUE DE PÂNICO
- Vertigens ou sensação de desmaio
- Tonturas, náuseas ou desconforto abdominal
- Calafrios ou ondas de calor
- Medo de morrer
- Medo de perder o controlo e enlouquecer
- Palpitações ou ritmo cardíaco acelerado
- Dor ou desconforto no peito
- Sensações de falta de ar ou afrontamentos
- Boca seca e sede
- Sentimento de confusão associado a pensamentos rápidos
- Contracções, tensões e espasmos musculares
- Dor de cabeça
- Sensação de irrealidade ou ideia de estar distante de si mesmo
- Terror, traduzido na sensação de que algo horrível está prestes a acontecer
(Retirado do site http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/medo-levado-ao-extremo)

Na verdade, em qualquer definição de pânico, os sintomas associados são mais ou menos os mesmos. Porém, lê-los ou até associa-los a algo que já sentimos está longe de perceber o que realmente se está a passar.

Sabemos (ou imaginamos) que a morte é uma sequência de disfuncionamentos físicos do corpo, culminando com a impossibilidade do espírito, qualquer que seja o seu entendimento, viver dentro dele. Um período de terror atroz separa o corpo do espírito para sempre e o impele para o desconhecido, numa forma de matéria desconhecida.

Por vezes o medo de algo é tão grande, que leva ao pânico. O corpo e a mente descontrolam-se, a aflição toma o lugar da reacção própria do medo normal. O espírito, preso a um corpo físico e falível, susceptível a todas as dores, em vez de parar, alimenta o medo. O terror é permanente.

Num ataque de pânico experimentam-se alguns destes sentimentos, apesar de não haver perigo que justifique tal. Entra-se numa espiral de medo, pois imediatamente estes sintomas são associados à morte. O pânico gera um sofrimento esmagador, é bem real para quem o vive.

Numa  ataque de pânico, a confusão é tal que as ideias negativas se colam como um iman  ao próprio processo de medo. A incapacidade de racionalizar, de relativizar acontece porque algo debilitou o sistema "avaliador" da dimensão e eminência do perigo tornando-o demasiado "embriagado" para vir em nosso auxílio.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ansiedade e conflito emocional subjacente

Nem sempre a ansiedade é uma resposta de carácter adaptativo. Quando não causado por um desiquilibrio hormonal (ex. hipertiroidismo) ou alguma anormalidade química, quando não se consegue identificar a causa primária, pode significar a consequência de um conflito interno. Designa-se conflito o estado psicológico decorrente da situação em que a pessoa é motivada, ao mesmo tempo, para dois comportamentos incompatíveis. É necessário pois fazer uma escolha, tomar uma decisão a favor de apenas um deles, o que não é fácil. Aqui, a razão não é grande ajuda, se se tratar de assuntos pessoais, onde a emoção desajusta a balança da objectividade. Sabe-se também de antemão que a frustração se seguirá ao bloqueio da satisfação do comportamento não escolhido.
Normalmente o que está em jogo é o que se deve em oposição ao que se quer. Quer sejam ditadas pela sociedade, pela religião, pela lei, pela moral ou pelos costumes, os valores que o indivíduo considera correctos e portanto deve seguir, são impostos do exterior; porém, o que ele "quer", "gosta" ou que efectivamente satisfaria as suas reais necessidades não são os mesmos. A obrigatoriedade e/ou emergência de uma escolha, associada ao medo do sofrimento causado pelo desvio dos valores aceites, e a frustração de um desejo insatisfeito, é fonte de ansiedade. Não há aqui uma tentativa de adaptação não conseguida, mas unicamente um stress patológico derivado da luta interior, muitas vezes inconsciente, entre a razão e o coração.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Os vários tipos de ansiedade - Correlação com o medo

Apesar de muitas vezes enfiados no mesmo saco, os transtornos psicológicos ligados à ansiedade têm diferenças entre si, quer em termos de sintomas ou mesmo de tratamento. Assim, convém antes de mais perceber quais as principais diferenças.

  • Ataques de Pânico - São episódios de ansiedade extrema de curta duração, com sintomas físicos bem marcados, tais como taquicardia, falta de ar, síncope, tonturas, sudorese.
  • Fobias específicas - medos injustificados e exagerados de algo ou alguma situação em particular. As crises são desencadeadas pela presença do objecto ou situação ou pela sua previsão ou possibilidade de ocorrência.
  • Stress pós-traumático - ocorre na sequência de um acontecimento com uma carga emocional negativa muito intensa (ex. acidentes, guerras, etc). A pessoa vivencia essa situação vezes sem conta, é como se tratasse de uma fotografia impressa na memória factual e emocional que não desaparece com o tempo, como seria normal.
  • Ansiedade generalizada - os sintomas associados à ansiedade comum (não patológica ou normal) encontram-se exacerbados, prolongam-se por muito tempo e perturbam o normal funcionamento da vida do indivíduo, causando marcado sofrimento. O seu objecto é indefinido.


O que pretendo analisar aqui é a relação entre a ansiedade generalizada e o medo irracional. Este tipo de ansiedade parece evoluir de situações de stress intenso e pode ser desencadeado por algum acontecimento stressante, ao qual o indivíduo não se conseguiu adaptar. Há uma correlação mórbida entre os sintomas físicos e o evoluir do quadro. A insegurança típica dos estados ansiosos associada à persistência dos sintomas físicos leva ao desenvolvimento do medo. É certo que se suprimíssemos esta emoção não teríamos ansiedade. É importante verificar aqui a presença de uma outra emoção que é a angústia. Esta última intensifica o sofrimento psicológico. Cria-se portanto um efeito bola de neve, no qual ansiedade gera medo que gera angústia que gera novamente ansiedade e assim por diante. Não se sabe ao certo o que desencadeia o quê, apenas que é impossível dissociá-los.

domingo, 7 de novembro de 2010

Medo: vale a pena pensar nisto....

Quem já viveu muito, quem venceu na vida ou a quem a vida ensinou muito, deve ser escutado com muita atenção. Buscamos em livros, em médicos, na internet, etc, respostas para as nossas angústias, quando muitas vezes bastava lembrar as frases de algumas dessas pessoas.

Retirado da Wikiquote:
  • "A única coisa da qual devemos ter medo é do próprio medo".
- only thing we have to fear is fear itself
- Franklin D. Roosevelt discurso de posse (4 de Março de 1933)
  • "Tenho mais medo da mediocridade que da morte".
Bob Fosse
  • "Evitar a felicidade com medo que ela acabe é o melhor meio de ser infeliz. Coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não ausência do medo".
Mark Twain
  • "Só erra quem produz. Mas, só produz quem não tem medo de errar. As massas humanas mais perigosas são aquelas em cujas veias foi injetado o veneno do medo. Do medo da mudança".
Octavio Paz
  • "Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz".
Platão
  • " Não é que eu tenha medo da morte. Eu apenas não quero estar lá quando isso acontecer".
Woody Allen
  • "O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não. O medo é a maior das doenças, porque paralisa o corpo e a mente. Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite".
Clarice Lispector
  • "A vida é maravilhosa se não se tem medo dela".
Charles Chaplin
  • " ...mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo".
Luis Fernando Verissimo
  • "O medo me fascina".
Senna, piloto Fórmula 1, em 1991
  • "O medo faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras - acho que estou entre elas - aprendem a conviver com ele e o encaram não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de autopreservação".
Senna, em junho 1991
  • "(Quando foi perguntado se tinha medo da morte) Da morte, nunca tive medo. O que não quero é ficar aleijado. Disso sim, tenho um medo que me pelo".
Nelson Piquet, piloto de Fórma 1
  • "À medida que nos libertamos de nossos medos, nossa presença automaticamente liberta outros".
Harriet Rubin, em A Princesa - Maquiavel para Mulheres
  • "Você ganha forças, coragem e confiança, a cada experiência em que você enfrenta o medo. Você tem que fazer exatamente aquilo que acha que não consegue".
Eleanor Roosevelt
  • "Não tenho medo das tempestades porque sei como guiar meu navio".
- I'm not afraid of storms, for I'm learning how to sail my ship.
- "Little women‎" - página 258, Louisa May Alcott - BompaCrazy.com, 1955 - 412 páginas
  • "Quando patinamos no gelo fino nossa segurança está na velocidade".
Ralph Waldo Emerson
  • "No fundo sabemos que o outro lado de todo o medo é a liberdade".
Marilyn Ferguson
  • "Guarde seus medos para você mesmo, mas partilhe sua inspiração com todos".
- Keep your fears to yourself but share your courag e with others.
- Robert Louis Stevenson citado em "The Pennsylvania medical journal‎" - Vol. 10, Página 438, de Medical Society of the State of Pennsylvania - 1907
  • "Não tenho medo do amanhã porque já vi o passado e amo o dia de hoje".
- I am not afraid of tomorrow, for I have seen yesterday and I love today.
- William Allen White citado em "Peabody Journal of Education‎" - Página 88, de George Peabody College for Teachers - Publicado por George Peabody College for Teachers, 1923
  • "De todas as paixões, o medo é aquela que mais debilita o bom senso".
Jean Retz
  • "O medo é o pai da crença".
Olavo Bilac
  • "O que se opõe à fé e à esperança não é tanto a descrença e o ateísmo. Mas o medo e a inquietação."
Leonardo Boff
  • "Ao fim de uma vida preenchida pelo medo, o medo que mais apavora é a ausência de medo".
Zygmunt Bauman
  • "Toda a doença que se manifesta em nós vem do medo, e tudo que é de bom vem do amor."
- All the ill that is in us comes from fear, and all the good from love
- Martin Pippin in the Apple Orchard‎ - Página 195, de Eleanor Farjeon - Publicado por BiblioBazaar, LLC, 2008, ISBN 0554217171, 9780554217178 - 300 páginas
  • "Podemos escolher recuar em direção à segurança ou avançar em direção ao crescimento. A opção pelo crescimento tem que ser feita repetidas vezes. E o medo tem que ser superado a cada momento."
- One can choose to go back toward safety or forward toward growth. Growth must be chosen again and again; fear must be overcome again and again
- The Psychology of Science: A Reconnaissance‎, de Abraham Harold Maslow - Publicado por ReinventingYourself.com, 2004, ISBN 0976040239, 9780976040231
- la lâcheté, c'est de la peur consentie; et le courage n'est souvent que de la peur vaincue
- Nos filles et nos fils: scènes et études de famille‎ - Página 66, de Ernest Legouvé, Gabriel Jean B. Ernest W. Legouvé, Paul Philippoteaux - Publicado por Hetzel, 1878 - 346 páginas
  • "Ser corajoso é estar morto de medo e, mesmo assim, sobrecarregar-se de qualquer forma".
- Courage is being scared to death — but saddling up anyway.
- John Wayne citado em Invasions‎, de Dave Gardner - iUniverse, 2002, ISBN 0595260608, 9780595260607 - 200 páginas
- Liberty means responsibility. That is why most men dread it.
- Man and superman: a comedy and a philosophy - página 273, Bernard Shaw - Brentano's, 1903 - 244 páginas

Se eu tivesse que escolher uma destas frases, escolheria sem dúvida a de Zygmunt Bauman: "Ao fim de uma vida preenchida pelo medo, o medo que mais apavora é a ausência de medo". Será por isto que tantas pessoas vivem uma vida inteira de pleno sofrimento, sabotando as próprias hipóteses de felicidade?


terça-feira, 20 de julho de 2010

Ansiedade Generalizada e Medo



No post anterior referi que a ansiedade é um fenómento normal que ocorre com todos nós e que tem como finalidade preparar-nos para enfrentar um perigo ou dificuldade que se avizinha. Mas quando as respostas de ansiedade se manifestam de forma causando sofrimento, deixam de exercer a sua função, passando a ser perturbadoras do funcionamento normal. A ansiedade patológica é elevada, faz o indivíduo ficar inibido e bloquear perante sitauções onde antes agia de forma natural. É característica da ansiedade uma apreensão sobre o futuro, que pode permanecer no tempo quando perigo real desaparece.

O medo e a ansiedade andam de mãos dadas. O medo é uma emoção que tem quase o mesmo propósito da ansiedade: preparar-nos para fugir ou agir de forma defensiva perante uma ameaça ,activando mecanismos no nosso corpo, como o acelerar do batimento cardíaco e a vigilância, por exemplo. Trata-se de uma reacção de alarme, quase imediata; a ansiedadeé dirigida ao futuro. Sabemos que o medo causa ansiedade. E será que a ansiedade causa medo?

A asniedade patológica pode descrever-se como um funcionamento incorrecto do nosso sistema do medo. O transtorno da ansiedade generalizada (TAG) diferencia-se das fobias (medo patológico relativamente a um objecto ou situação específica) dado que não está associada a nada em concreto. Apesar disso, toda a ansiedade tem como pano de fundo o medo.

A Ansiedade pode se manifestar em três níveis: neuroendócrino, visceral e de consciência. O nível neuroendócrino diz respeito aos efeitos da adrenalina, noradrenalina, glucagon, hormônio anti-diurético e cortisol. No plano visceral a Ansiedade corre por conta doSistema Nervoso Autônomo (SNA), o qual reage se excitando o organismo na reação de alarme (sistema simpáticoto) ou relaxando (sistema vagal) nas fase de esgotamento.

Cognitivamente a Ansiedade se manifesta por dois sentimentos desagradáveis:

1- através da consciência das sensações fisiológicas de sudorese, palpitação, inquietação e outros sintomas autossômicos (do sistema nervoso autônomo);

2- através da consciência de estar nervoso ou amedrontado.”

in http://virtualpsy.locaweb.com.br

Quando os factores que desencadeiam a ansiedade se mantêm por muito tempo (avaliação subjectiva), e o esforço adatativo é muito intenso, pode-se entrar na fase de esgotamento, como ilustrado no gráfico acima: trata-se da fakência dos recursos emocionais e fisiológicos, o que leva ao aparecimento de transtornos diversos, orgânicos, psíquicos ou emocionais.

No TAG o objecto do medo é muito vago e difuso. A sensação é intensa, mas não dirigida. Por essa razão, o individuo “procura” um objecto, acumula-os, muda de um para outro com facilidade. O medo vago passa a medo de tudo, a decadência no sentido do esgotamento antevê um cenário horrível e portanto gera ainda mais medo. O indivíduo perde o controlo, rompe com os seus mais íntimos valores, apenas pede ajuda sem conseguir estabelecer um plano, as suas ideias tornam-se obsessivas e desorganizadas… Bom, o melhor é evitar, inverter o sentido da curva do gráfico até que atinja novamente o estado “Óptimo”….

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Hipocondria

""Comecei com tonturas e com a sensação de desmaio. Primeiro julguei que fosse pela má alimentação, depois talvez um problema de ouvidos devido ao desequilíbrio. Passado pouco tempo comecei a pensar que tinha alguma doença terminal. Fui a uma médica que me disse que não tinha nada, que era tudo do sistema nervoso e stress. Claro que não acreditei", recorda Catarina, 26 anos, livreira. Os primeiros sinais de hipocondria surgiram depois de ter descoberto um gânglio inflamado na zona do maxilar, "fiz o que não se deve fazer - procurar justificações na Internet para algo que encontrei de diferente no meu corpo. Depois da minha pesquisa e de ter encontrado um monte de cancros e doenças terminais para justificar um simples gânglio inflamado, o meu pesadelo começou. Fiz uma ecografia que não acusou nada. No momento fiquei muito aliviada, "curada". Mas no dia seguinte voltou tudo e com mais força ainda. "E se o médico não viu bem e tenho qualquer coisa escondida?", lembra. Catarina não dormia, não aguentava nada no estômago nem nos intestinos. Sentia suores frios, o coração a querer sair do sítio e falta de ar nos pulmões. "É um descontrolo total dos membros e órgãos. É um desespero e um sofrimento inacreditável", sustenta. Recorreu a quase todas as especialidades, fez ecografias e dezassete raios X. "Corri tudo à procura da doença que eu tinha que ter. Sente-se tudo, e nada ao mesmo tempo, sente-se o corpo a desintegrar, palpitações onde não deviam, estalidos que não são normais, é uma atenção pormenorizada a tudo o que acontece e mexe no nosso corpo", afirma. E acabou por atingir o limite quando deixou de sair da cama e de conseguir andar, "cansava-me muito, o coração disparava e era naquele momento que eu ia morrer. É aterrador viver com a permanente queixa, traduzida em dores, do nosso corpo de como já não aguenta mais. Dava dois passos e tinha que descansar ou encostar-me para não cair", explica.
"Imagine que vai a um médico e lhe dizem que tem aproximadamente dois segundos de vida. É isso que se sente, a cada segundo que passa é no próximo que vou morrer, porque sinto uma dor aqui, outra ali, e se não tenho cancro, tenho outra coisa qualquer que ainda ninguém descobriu. Alguém consegue viver assim? Não se consegue pensar em mais nada, nem há interesse para tal. É um desinteresse total, um morrer e continuar a respirar", pormenoriza Catarina."
Este texto é uma transcrição de parte de um artigo publicado na revista "Happy" de Novembro de 2009, pª 250 e 252, sobre casos de hipocondria.
Nada do que encontrei consegue melhor exprimir o sente um hipocondríaco. Apesar de gozados e incompreendidos pelos outros, o seu sofrimento é bem real. Trata-se de um dos casos de fobia mais complicados, quer para o paciente quer para o terapeuta. Primeiro, porque o paciente não supõe que os sintomas que sente se devam a causas psicológicas, logo procura médicos de especializados em tratar o corpo físico. Só muitas vezes devido à exaustão até dos próprios, o paciente é encaminhado para consultas de psicologia ou psiquiatria.
O caso de Catarina atingiu proporções extremas, mas milhares de pessoas vivem no dia a dia a mesma angústia que ela. A vida muda, embora se esforcem por não deixar que os outros se apercebam disso. Primeiro, o medo constante, depois a fuga. Não há lugar para onde fugir, a fuga de que falo é outra. Começa-se por deixar de sair, não querer estar os amigos, deixar de fazer as actividades que antes lhe davam prazer. Porquê? Porque não há disponibilidade para mais nada. Para além da pessoa não se sentir bem, não consegue pensar em mais nada, a sua constante vigia às sensações corporais e procura de uma explicação para elas, além da antecipação de graves enfermidades, não deixam espaço para pensar em mais nada. Nem sentir mais nada. O sofrimento é incrível, Catarina relatou-o bem. Vivem constantemente com medo é insuportável, e às tantas já têm medo de ter medo.
O acontecimento ou acontecimentos que despoletaram a hipocondria ficam marcados no cérebro como uma fotografia que não se consegue apagar, sobretudo sob a forma de emoção. Ainda que o médico diga que está tudo bem, a sensação continua. O que atormenta, o que vem à tona e não deixa viver a vida é a sensação por vezes mais inconsciente que consciente, do medo, da eminência da morte.
Mesmo quando o paciente toma consciência de que se trata de uma fobia, não consegue eliminar a "fotografia". O facto de ter um corpo que, como toda a gente, está sujeito a doenças e a inevitabilidade e impossibilidade de determinação temporal da morte, não dão paz, tanto mais que ninguém nem nada pode garantir que o que se teme não possa acontecer.
Muitos tratamentos são tentados, desde administração de medicamentos, psicoterapia, acumpunctura, EMDR, etc. Penso que o passo decisivo no tratamento não consiste em eliminar os sintomas mas deixar de temer a morte. Por mais absurdo que isto possa parecer, tal como em todas as outras fobias o que se pretende atingir é pôr fim ao medo do objecto das mesmas, porque não pensar nos mesmos termos em relação à hipocondria?

Lágrimas secas

Ver fonte da imagem   So me apetece chorar, mas as lágrimas não caem.... É um alívio quando elas escorrem pelo rosto, pois é uma forma de ex...

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